Itamar Vieira Júnior fala de literatura, escravidão e conflitos agrários no STF

“Torto Arado pretendeu ser uma jornada por corpos e territórios de um povo, pretendeu restituir a possibilidade de uma existência maior, muito além dos dogmas e dos paradigmas que nos foram legados desde um tempo tão remoto, mas que ainda ecoam ferozes em nossas vidas”. Com essas palavras, o escritor Itamar Vieira Júnior resumiu a essência do seu romance “Torto Arado”, ao participar, nesta segunda-feira (26), do projeto Diálogos com o Supremo.

Colonização, escravidão, conflitos agrários, opressão e a força, resistência e resiliência femininas, externadas nas personagens Bibiana e Belonísia, são alguns ingredientes da premiada obra do escritor baiano. “Torto Arado”, que figurou em rankings dos livros de ficção brasileiros mais vendidos em 2021 e 2022, alcançou a marca de 700 mil cópias vendidas, segundo lembrou o secretário de Altos Estudos, Pesquisa e Gestão do STF, Fabyano Stalschmidt, ao apresentar o projeto do STF, juntamente com o secretário-geral, Estêvão Waterloo.

Resistência

Durante sua apresentação, Itamar discorreu sobre os propósitos e os objetivos da obra e falou da importância da literatura como instrumento de resistência. “A literatura nos permite exercitar a empatia, comunicar o que há de mais profundo na experiência humana. Ao revisitarmos períodos da história que não vivemos, culturas e espaços diversos, somos capazes não apenas de vivê-los mas também de adentrar as subjetividades dos implicados em sua trama”, afirmou.

O autor disse que sua ideia foi situar o romance em cerca de 40 anos, a partir de 1960, mas lembrou que as questões sociais apresentadas no livro ainda persistem. Uma estrutura social forjada no Brasil Colônia até hoje se manifesta nos conflitos no campo pela posse da terra, na submissão dos povos indígenas, na discriminação de gênero, que oprime as mulheres, entre outras mazelas que, segundo o doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia, ainda são relevantes.

Terra

Para Vieira Jr., o Brasil fez escolhas no passado que ainda reverberam nos tempos atuais. Um exemplo é a posse da terra, bem fundamental para a “existência da vida”, que só pode pertencer a quem puder comprá-la. Ao ser provocado a uma reflexão sobre a relação do Direito com o cotidiano do país nesta questão, ressaltou que a Constituição de 1988 é muito clara quando define que a terra deve ter uma função social. “Não há vida se não há terra ou território, se não há um chão para gente pisar. É uma questão ontológica, que diz respeito às nossas necessidades mais elementares”.

Ao agradecer o convite para participar dos Diálogos com o Supremo, o escritor disse que jamais pensou que estaria no STF na condição de comunicador e que, nos últimos anos, pôde compreender a importância da democracia e do papel do Supremo como um dos seus pilares.

Confira aqui a 5ª edição da palestra do “Diálogo com o Supremo”.

WH//CF

 

 

Com informações do STF

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