Branquitude e colonialismo são tema da primeira mesa redonda do curso de letramento racial

Aulas serão realizadas no TST uma vez por mês até o fim do ano

Mesa redonda do curso Letramento Racial

Mesa redonda do curso Letramento Racial

16/08/23 – “O Brasil é um país racista e tem pessoas racistas”, destacou a historiadora Ynaê Lopes dos Santos, ao falar na primeira mesa redonda do curso “Letramento racial: reeducar para construir”. O evento, realizado nesta quarta-feira (16), no Tribunal Superior do Trabalho, dá prosseguimento à programação sobre a temática.

Embranquecimento

A doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) contou a história de Manuel Querino, um dos primeiros homens a falar e escrever sobre a população negra, ainda no século XIX e início do século XX. E detalhou as tentativas da classe dominante da época de “embranquecer” a população brasileira no cenário pós-abolição da escravidão.

“Esse embranquecimento foi feito a partir da imigração europeia”, explicou. “Foram trazidos camponeses, na maioria católicos, com o discurso de que não existia mão de obra disponível no Brasil, sendo que, nessa época, a grande maioria dos negros já eram livres e trabalhadores”. Segundo Ynaê, a história dessas pessoas foi apagada. “Por muito tempo, o trabalho e a escravidão foram estudados de forma separada”.

Tráfico

Ainda de acordo com a historiadora, o Brasil recebeu quase 48% de todas as pessoas trazidas da África durante quatro séculos – cerca de cinco milhões de homens, mulheres e crianças. Praticamente todas as famílias que moravam no Brasil na época se envolveram na compra e na venda de pessoas escravizadas, e essa foi uma das atividades mais lucrativas que se tem notícia na história mundial.

Filosofia africana

Renato Noguera, mestre e doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), deu um contexto filosófico sobre a temática. Ele explicou as diferenças entre as culturas europeia e africana na religião, na variedade de deuses, no culto aos ancestrais e na forma de encarar a própria existência. 

Ainda de acordo com o professor, por muitos anos a visão adotada foi a vinda da Europa (eurocêntrica), e novos estudos têm valorizado a visão de estudiosos negros e africanos que trazem uma nova perspectiva sobre vários assuntos.

Racismo x branquitude

A professora em Direito Constitucional da Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-RJ) Thula de Oliveira Pires enfatizou que, por muitos anos, a comunidade acadêmica não tinha interesse em pensar, estudar e discutir o que era o Brasil e qual a realidade do nosso país. Esse cenário, segundo ela, passou a mudar nos anos 1940, com a criação dos primeiros cursos de pós-graduação de história social. 

“Para entender o racismo, também é preciso estudar o branco. Esse foi o pensamento de Alberto Guerreiro Ramos, um dos primeiros estudiosos que pensou em ampliar o pensamento para avaliar os impactos do racismo nas relações sociais brasileiras”, destacou.

Segundo a docente, o termo branquitude visa justamente colocar o branco na discussão racial, para que se consiga entender o que sustenta a lógica da supremacia branca e todos os privilégios resultantes dela.

Letramento racial

A programação do curso “Letramento racial: reeducar para construir” prevê a realização de outras três mesas redondas nos próximos meses para discutir outros temas como ações afirmativas, saúde mental, mercado de trabalho, sistema de justiça e julgamento com perspectiva racial.

(Juliane Sacerdote/CF)

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Com informações do Tribunal Superior do Trabalho

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