LC 157/2016 promove alterações na Lei do ISS (LC 116/2003). Entenda


Olá amigos do Dizer o Direito,
Foi publicada hoje, dia 30 de
dezembro, último dia útil do ano, mais uma importante novidade. Trata-se da Lei
Complementar 157/2016, que:
• altera a Lei do ISSQN (LC
116/2003); e
• altera a Lei nº 8.429/92,
prevendo uma nova hipótese de ato de improbidade administrativa.
Neste post iremos conhecer, em
linhas gerais, as novidades trazidas por esta Lei no âmbito tributário. Em
outro post, analisarei de forma específica a alteração na Lei de Improbidade
Administrativa.
NOÇÕES GERAIS SOBRE O ISSQN

ISSQN

O ISSQN significa Imposto Sobre
Serviços de Qualquer Natureza.
Algumas vezes, você encontrará
apenas a sigla ISS. É a mesma coisa.
Trata-se de um tributo de
competência dos Municípios.
Em âmbito nacional, o ISSQN é
disciplinado pela LC 116/2003, que estabelece suas normas gerais. Vale
ressaltar, no entanto, que cada Município, para cobrar este imposto, precisa
editar uma lei ordinária municipal tratando sobre o assunto. Esta lei local,
obviamente, não pode contrariar a LC 116/2003 nem prever serviços que não
estejam expressos na lei federal.
Fato gerador

O ISSQN incide sobre a prestação
dos serviços listados no anexo da LC 116/2003.
Confira o texto constitucional:
Art. 156. Compete aos
Municípios instituir impostos sobre:
III – serviços de qualquer
natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar.
(…)
§ 3º Em relação ao imposto
previsto no inciso III do caput deste artigo, cabe à lei complementar:
I – fixar as suas
alíquotas máximas e mínimas;
II – excluir da sua
incidência exportações de serviços para o exterior;
 III – regular a forma e as
condições como isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e
revogados.

Veja agora o que diz o art. 1º da
LC 116/2003:
Art. 1º O Imposto Sobre
Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito
Federal, tem como fato gerador a prestação de serviços constantes da lista
anexa, ainda que esses não se constituam como atividade preponderante do
prestador.
Exemplos: quando o médico atende
o paciente em uma consulta, ele presta um serviço, sendo isso fato gerador do
ISSQN; quando o cabeleireiro faz uma escova progressiva na cliente, ele também
presta um serviço e deverá pagar ISSQN.
Todos os serviços que estão
sujeitos ao pagamento de ISSQN encontram-se previstos na lista anexa à LC
116/2003. Se não estiver nesta lista, não é fato gerador deste imposto. Vale
ressaltar que esta lista é taxativa (exaustiva).
1ª ALTERAÇÃO:

Houve algumas pequenas mudanças
no rol do art. 3º, que trata sobre o local onde se considera prestado o serviço
e, consequentemente, onde poderá ser cobrado o imposto.
ANTES DA LC 157/2016

ATUALMENTE

Art.
3º O serviço considera-se prestado e o imposto devido no local do
estabelecimento prestador ou, na falta do estabelecimento, no local do
domicílio do prestador, exceto nas hipóteses previstas nos incisos I a XXII,
quando o imposto será devido no local:

XII
– do florestamento, reflorestamento, semeadura, adubação e congêneres, no
caso dos serviços descritos no subitem 7.16 da lista anexa;

XVI
– dos bens ou do domicílio das pessoas vigiados, segurados ou monitorados, no
caso dos serviços descritos no subitem 11.02 da lista anexa;

XIX
– do Município onde está sendo executado o transporte, no caso dos serviços
descritos pelo subitem 16.01 da lista anexa;

Art.
3º O serviço considera-se prestado, e o imposto, devido, no local do
estabelecimento prestador ou, na falta do estabelecimento, no local do domicílio
do prestador, exceto nas hipóteses previstas nos incisos I a XXV, quando o
imposto será devido no local:

XII
– do florestamento, reflorestamento, semeadura, adubação, reparação de solo,
plantio, silagem, colheita, corte, descascamento de árvores, silvicultura,
exploração florestal e serviços congêneres indissociáveis da formação,
manutenção e colheita de florestas para quaisquer fins e por quaisquer meios;

XVI
– dos bens, dos semoventes ou do domicílio das pessoas vigiados, segurados ou
monitorados, no caso dos serviços descritos no subitem 11.02 da lista anexa;

XIX
– do Município onde está sendo executado o transporte, no caso dos serviços
descritos pelo item 16 da lista anexa;

2ª ALTERAÇÃO:

Foi acrescentado um novo artigo à
LC 116/2003 determinando qual deverá ser a alíquota mínima do ISSQN:
Art.
8º-A. A alíquota mínima do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza é de 2%
(dois por cento).
Desse modo, nenhum Município
poderá instituir alíquota de ISSQN inferior a 2%. Isso tem como objetivo evitar
a “guerra fiscal” que estava sendo travada entre muitos Municípios
limítrofes, que reduziam as alíquotas do imposto para atraírem novas empresas
prestadoras de serviços.
Mas qual é o objetivo do
legislador de estabelecer uma alíquota mínima?

A finalidade foi a de evitar a
“guerra fiscal” que estava sendo travada entre muitos Municípios
limítrofes, que reduziam as alíquotas do imposto para atraírem novas empresas
prestadoras de serviços.
Ricardo Alexandre explica como
essa prática pode ocorrer:
“A maneira mais comum como
se dava a guerra fiscal do ISS era os Municípios estipularem alíquotas
irrisórias para o tributo, atraindo empresas para os respectivos territórios,
uma vez que a competência para a cobrança era, em regra, do Município em que
estava domiciliado o prestador de serviço.
Noticiou-se, por exemplo, que
Municípios da região metropolitana de São Paulo reduziram a alíquota do ISS
para 0,5% (meio ponto percentual), o que equivalia a um décimo do que era
cobrado na Capital. Dessa forma, as empresas que mudassem formalmente suas
sedes para tais Municípios gozariam de uma redução de 90% (noventa por cento)
na carga relativa ao tributo.
No final das contas, todos os
Municípios acabavam perdendo, pois quem tem um aparente ganho, sujeita-se a
perdas futuras, uma vez que os demais Municípios também entrarão na
guerra.” (ALEXANDRE, Ricardo. Direito
Tributário esquematizado.
São Paulo: Método, 2016, p. 678).
O legislador possuía autorização
constitucional para fixar esta alíquota mínima?

SIM. A EC 37/2002 alterou o art.
156, § 3º, I, da CF/88 e passou a permitir expressamente que o legislador
infraconstitucional tratasse sobre o tema. Veja:
Art. 156. Compete aos
Municípios instituir impostos sobre:
(…)
III – serviços de qualquer
natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar.
(…)
§ 3º Em relação ao imposto
previsto no inciso III do caput deste artigo, cabe à lei complementar:
I – fixar as suas
alíquotas máximas e mínimas;
(…)
III – regular a forma e as
condições como isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e
revogados.
Na prática, a previsão da alíquota
mínima em 2% representa uma novidade? O caput do art. 8ºA traz uma grande inovação?
NÃO. Isso porque o ADCT da CF/88 já
previa que a alíquota mínima do ISS seria de 2%. Confira:
Art. 88. Enquanto  lei 
complementar  não  disciplinar 
o disposto nos incisos I e III do § 3º do art. 156 da Constituição
Federal, o imposto a que se refere o inciso III do caput do mesmo artigo:
(Incluído pela EC 37/2002)

I – terá alíquota mínima
de dois por cento, exceto para os serviços a que se referem os itens 32, 33 e
34 da Lista de Serviços anexa ao Decreto-Lei nº 406, de 31 de dezembro de 1968;
(Incluído pela EC 37/2002)

II – não  será 
objeto  de  concessão 
de  isenções, incentivos e
benefícios fiscais, que resulte, direta ou indiretamente, na redução da
alíquota mínima estabelecida no inciso I. (Incluído pela EC 37/2002)
§ 1º tem por objetivo evitar a burla
da alíquota mínima

O legislador imaginou que os
Municípios poderiam tentar burlar a proibição do caput por meio da concessão de isenções aos prestadores de
serviços.
Assim, por exemplo, a alíquota do
ISS no Município “X” é de 2%. No entanto, é editada uma lei local
concedendo isenção do imposto para as empresas que se instalem naquela
localidade e gerem até 10 empregos diretos. Com isso, o Município teria
encontrado uma forma de, indiretamente, superar a proibição do caput, já que,
na prática, a alíquota será inferior a 2%. Com o objetivo de evitar esta burla,
o legislador trouxe a seguinte regra no § 1º do art. 8º-A:
§
1º O imposto não será objeto de concessão de isenções, incentivos ou benefícios
tributários ou financeiros, inclusive de redução de base de cálculo ou de
crédito presumido ou outorgado, ou sob qualquer outra forma que resulte, direta
ou indiretamente, em carga tributária menor que a decorrente da aplicação da
alíquota mínima estabelecida no caput, exceto para os
serviços a que se referem os subitens 7.02, 7.05 e 16.01 da lista anexa a esta
Lei Complementar
.
Regra: não se pode conceder
isenção, incentivo ou benefício relacionado com ISS se isso resultar em uma
alíquota inferior a 2%.
Exceção: será permitida a
concessão de isenção, incentivo ou benefício de ISS para os seguintes serviços:
• 7.02 – Execução, por
administração, empreitada ou subempreitada, de obras de construção civil,
hidráulica ou elétrica e de outras obras semelhantes, inclusive sondagem,
perfuração de poços, escavação, drenagem e irrigação, terraplanagem,
pavimentação, concretagem e a instalação e montagem de produtos, peças e equipamentos
(exceto o fornecimento de mercadorias produzidas pelo prestador de serviços
fora do local da prestação dos serviços, que fica sujeito ao ICMS).
• 7.05 – Reparação, conservação e
reforma de edifícios, estradas, pontes, portos e congêneres (exceto o
fornecimento de mercadorias produzidas pelo prestador dos serviços, fora do
local da prestação dos serviços, que fica sujeito ao ICMS).
• 16.01 – Serviços de transporte
coletivo municipal rodoviário, metroviário, ferroviário e aquaviário de
passageiros.
Prazo de adaptação

A LC 157/2016 determinou que os
Municípios/DF terão o prazo de 1 ano para revogar os dispositivos que
contrariem o disposto no caput e no §
1º do art. 8º-A acima transcritos.
Ato de improbidade administrativa

Importante ressaltar que a LC
157/2016 alterou a Lei nº 8.429/92 e determinou que administrador público que
conceder, aplicar ou manter benefício em contrariedade ao que estabelece o art.
8ºA, caput e § 1º comete ato de improbidade administrativa. Confira o artigo
que foi acrescentado na Lei de Improbidade:
Art. 10-A. Constitui ato
de improbidade administrativa qualquer ação ou omissão para conceder, aplicar
ou manter benefício financeiro ou tributário contrário ao que dispõem o caput e
o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003.
A pessoa que praticar o ato de improbidade do art. 10-A está
sujeita às seguintes penalidades:
• perda da função pública;
• suspensão dos direitos
políticos de 5 a 8 anos e
• multa civil de até 3 vezes o
valor do benefício financeiro ou tributário concedido.
§
2º É nula a lei ou o ato do Município ou do Distrito Federal que não respeite
as disposições relativas à alíquota mínima previstas neste artigo no caso de
serviço prestado a tomador ou intermediário localizado em Município diverso
daquele onde está localizado o prestador do serviço.
§
3º A nulidade a que se refere o § 2º deste artigo gera, para o prestador do
serviço, perante o Município ou o Distrito Federal que não respeitar as
disposições deste artigo, o direito à restituição do valor efetivamente pago do
Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza calculado sob a égide da lei nula.
3ª ALTERAÇÃO:

Todos os serviços que estão
sujeitos ao pagamento de ISSQN encontram-se previstos na lista anexa à LC
116/2003. Se não estiver nesta lista, não é fato gerador deste imposto. Vale
ressaltar que esta lista é taxativa (exaustiva).
A LC 157/2016 alterou diversos
itens da lista do Anexo da LC 116/2003.
A LC 116 foi editada em 2003.
Nestes anos surgiram novos serviços que, como não estavam expressamente na
lista, não podiam ser tributados com ISS. Desse modo, a alteração teve como
objetivo incluir expressamente estes novos serviços. Os exemplos mais
emblemáticos são os serviços de filmes e músicas por streaming, como é o caso do “Netflix” e do
“Spotify”. A LC 157/2016 acrescenta expressamente este serviço na
lista do Anexo da LC 116/2003 e agora esta atividade passa a ser tributada com
ISS. Veja o item que foi inserido para tributar o Netflix:
1.09 – Disponibilização,
sem cessão definitiva, de conteúdos de áudio, vídeo, imagem e texto por meio da
internet, respeitada a imunidade de livros, jornais e periódicos (exceto a
distribuição de conteúdos pelas prestadoras de Serviço de Acesso Condicionado,
de que trata a Lei nº 12.485, de 12 de setembro de 2011, sujeita ao ICMS).
Veja os demais itens que foram
alterados e compare com a redação original. Se você estuda para concursos que cobram
bastante ISS (ex: PGM, Fiscal de Tributos Municipais) deverá saber bem as mudanças
abaixo:
ANTES DA LC 157/2016

ATUALMENTE

1.03 – Processamento de
dados e congêneres.

1.03
– Processamento, armazenamento ou hospedagem
de dados, textos, imagens, vídeos, páginas eletrônicas, aplicativos e
sistemas de informação
, entre outros formatos, e congêneres.

1.04
– Elaboração de programas de computadores, inclusive de jogos eletrônicos.

1.04
– Elaboração de programas de computadores, inclusive de jogos eletrônicos,
independentemente da arquitetura construtiva da máquina em que o programa
será executado, incluindo tablets, smartphones e congêneres.

Não
havia.

1.09
– Disponibilização, sem cessão definitiva, de conteúdos de áudio, vídeo,
imagem e texto por meio da internet, respeitada a imunidade de livros,
jornais e periódicos (exceto a distribuição de conteúdos pelas prestadoras de
Serviço de Acesso Condicionado, de que trata a Lei nº 12.485, de 12 de
setembro de 2011, sujeita ao ICMS).

Não
havia.

6.06
– Aplicação de tatuagens, piercings e congêneres.

7.16
– Florestamento, reflorestamento, semeadura, adubação e congêneres.

7.16
– Florestamento, reflorestamento, semeadura, adubação, reparação de solo,
plantio, silagem, colheita, corte e descascamento de árvores, silvicultura,
exploração florestal e dos serviços congêneres indissociáveis da formação,
manutenção e colheita de florestas, para quaisquer fins e por quaisquer
meios.

11.02
– Vigilância, segurança ou monitoramento de bens e pessoas.

11.02
– Vigilância, segurança ou monitoramento de bens, pessoas e semoventes.

13.05 – Composição gráfica,
fotocomposição, clicheria, zincografia, litografia, fotolitografia.

13.05
– Composição gráfica, inclusive confecção de impressos gráficos, fotocomposição,
clicheria, zincografia, litografia e fotolitografia, exceto se destinados a
posterior operação de comercialização ou industrialização, ainda que
incorporados, de qualquer forma, a outra mercadoria que deva ser objeto de
posterior circulação, tais como bulas, rótulos, etiquetas, caixas, cartuchos,
embalagens e manuais técnicos e de instrução, quando ficarão sujeitos ao
ICMS.

14.05
– Restauração, recondicionamento, acondicionamento, pintura, beneficiamento,
lavagem, secagem, tingimento, galvanoplastia, anodização, corte, recorte,
polimento, plastificação e congêneres, de objetos quaisquer.

14.05
– Restauração, recondicionamento, acondicionamento, pintura, beneficiamento,
lavagem, secagem, tingimento, galvanoplastia, anodização, corte, recorte,
plastificação, costura, acabamento, polimento e congêneres de objetos
quaisquer.

Não
havia.

14.14
– Guincho intramunicipal, guindaste e içamento.

16.01 – Serviços de
transporte de natureza municipal.

16.01
– Serviços de transporte coletivo municipal rodoviário,
metroviário, ferroviário e aquaviário de passageiros
.

Não
havia.

16.02
– Outros serviços de transporte de natureza municipal.

Não
havia.

17.25
– Inserção de textos, desenhos e outros materiais de propaganda e
publicidade, em qualquer meio (exceto em livros, jornais, periódicos e nas
modalidades de serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens de
recepção livre e gratuita).

25.02
– Cremação de corpos e partes de corpos cadavéricos.

25.02
– Translado intramunicipal e cremação de corpos e partes de corpos
cadavéricos.

Não
havia.

25.05
– Cessão de uso de espaços em cemitérios para sepultamento.

Vigência

A LC 157/2016 entrou em vigor no
momento da sua publicação (30/12/2016). No entanto, a 2ª alteração acima
explicada (novo art. 8ºA da LC 116/2003) somente produzirá efeitos a partir de
30/12/2017.
De igual modo, a nova hipótese de
ato de improbidade inserida no art. 10-A da Lei nº 8.429/92 já está em vigor,
mas somente produzirá efeitos a partir de 30/12/2017.
A 3ª alteração, ou seja, inclusão
de novos serviços a serem tributados pelo ISS somente começa a valer a partir de
março de 2017. Isso porque houve a inclusão de novos fatos geradores e o ISS se
submete ao princípio da noventena (anterioridade nonagesimal) previsto no art. 150,
III, “c”, da CF/88:
Art. 150. É vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

III – cobrar tributos:

c) antes de decorridos noventa dias da
data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o
disposto na alínea b; (Incluído pela EC 42/2003)

Márcio André Lopes Cavalcante

Professor

Artigo Original em Dizer o Direito

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Leia também!