O Superior Tribunal Militar (STM) recebeu, nesta quarta-feira (25), um evento que reuniu mulheres militares das Forças Armadas para discutir temas como assédio, valorização das mulheres, carreira e outros assuntos importantes para elas.
Cerca de 120 mulheres, entre oficiais-generais, oficiais superiores, oficiais e praças da Marinha, Exército, Força Aérea, Polícia Militar do Distrito Federal e de outros órgãos de segurança pública, participaram do evento.
O encontro foi promovido pela Ouvidoria da Mulher da Justiça Militar da União e teve como tema: “Mulheres nas Forças Armadas: Trajetórias, Desafios e Horizontes”.
O vice-presidente do STM e corregedor da JMU, ministro José Coelho Ferreira, abriu oficialmente o evento, afirmando que o encontro era uma das iniciativas mais importantes realizadas neste ano, elogiando o pioneirismo da ação.
Entre as presentes, destacou-se a major-brigadeiro da Força Aérea Brasileira, médica Carla Lyrio Martins, a primeira mulher do país promovida ao posto de oficial-general das Forças Armadas com três estrelas, equivalente a general de divisão no Exército.
Também compareceu um grupo de soldados do segmento feminino dos fuzileiros navais da Marinha do Brasil, integrantes da primeira turma de soldados mulheres.
A palestra magna foi conduzida pela juíza federal da Justiça Militar da União, Mariana Aquino, Ouvidora da Mulher da JMU e idealizadora do evento. Ela falou principalmente sobre o Programa de Inovação da Ouvidoria da Mulher da JMU, explicando que a intenção foi ampliar o acolhimento e atuar na defesa das mulheres em situação de violência, além de modernizar e aprimorar a Justiça Militar.
A magistrada destacou que o programa, que conta com a participação de mulheres militares em seu planejamento, tem como objetivo evidenciar a responsabilidade institucional da JMU na proteção dos princípios constitucionais, garantir serviços judiciários na prevenção de violência contra a mulher, adequar a atuação da JMU à perspectiva de gênero e melhorar as condições de trabalho da mulher militar.
A major do Exército, Jussara Bortolucci Franco, foi a segunda palestrante do dia. Ela abordou os principais desafios da carreira e as conquistas das mulheres militares, além de trazer uma compreensão sobre a evolução histórica da participação feminina nas Forças Armadas Brasileiras, destacando os principais obstáculos enfrentados e as vitórias alcançadas, especialmente dentro da Força Terrestre.
Já a primeiro-tenente Nívea Moema, psicóloga da Força Aérea Brasileira, levantou questões relacionadas à saúde mental, com foco na psicologia de gênero. Ela explicou que a psicologia e a psiquiatria foram desenvolvidas em um contexto masculino, o que gerou comparações prejudiciais às mulheres.
Além disso, os efeitos comuns produzidos pelas alterações hormonais associadas aos períodos pré-menstruais, puerpério e menopausa foram, muitas vezes, estigmatizados e caracterizados como problemas psíquicos. Seu trabalho dentro da Força Aérea busca justamente considerar o ambiente social em que as mulheres militares estão inseridas.
A especialista também esclareceu que o sofrimento psíquico e os problemas de saúde mental em mulheres são socialmente construídos e moldados por valores e ideais estereotipados de gênero, gerando caminhos distintos de subjetivação para homens e mulheres.
Na parte da tarde, o evento adotou um formato semelhante a um “talk show”, com o objetivo de discutir temas difíceis de maneira mais leve e dinâmica. Participaram três oficiais das Forças Armadas: a major-brigadeiro Carla Lyrio Martins; a capitão de mar e guerra Maria Eliâne Borges e a capitão do Exército Luana Carneiro.
Elas compartilharam suas histórias de superação, discutiram a trajetória das mulheres de farda, os desafios enfrentados por milhares delas ao longo dos últimos 40 anos, e as perspectivas futuras para as mulheres nas Forças Armadas.
De acordo com a juíza Mariana Aquino, a realização de um evento como este é de extrema importância, pois marca um avanço significativo na busca por igualdade e respeito dentro das Forças Armadas, instituições historicamente marcadas pela predominância masculina.
“O encontro representa um espaço essencial para dar voz às mulheres militares, permitindo que discutam abertamente questões sensíveis, como assédio, machismo e a valorização de suas carreiras, além de fortalecer a luta por melhores condições de trabalho. Além disso, iniciativas desse tipo contribuem para uma maior conscientização sobre a necessidade de adotar uma perspectiva de gênero nas instituições militares, promovendo mudanças que beneficiem não só as mulheres, mas toda a corporação, ao criar um ambiente mais inclusivo e justo”, finalizou.